VISITANTES

Quem sou eu

Minha foto
Macondo, Garcia Marques, Brazil
Não sei quem sou. Se soubesse, não estaria escrevendo. E você também não sabe quem é. Se soubesse, não estaria lendo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

MININO HOMI OU MININA MULÉ?


Depois de alguns meses de ausência – passei minhas férias no Caribe, Ásia Central e Europa Setentrional, aproveitando para dar uma passada em Ipatinga, longe pra cacete – e longe da internet (alguém poderia me atualizar e dizer quem ganhou as eleições nos Estados Unidos ou o campeão do Torneio Internacional de Par ou Ímpar?), retorno e vejo que notícias sem interesse continuam sendo as mais interessantes. Ou seja, o Big Brother vem aí!!! Mas não é isso o que mais me chamou a atenção em meu retorno – é claro que nos próximos posts eu terei que falar sobre o BBBBB (Big Brother Brasil: Bundas e Bissexuais – mas a notícia, incrível(?) de um bebê fotografado através de um exame de ultrassom fazendo um V de vitória, ou paz e amor, como querem alguns. A pobre mãe já tivera uma série de abortos e este gesto seria um sinal de que tudo daria bem (ai, ai!) como realmente ocorreu. Nelson Rodrigues disse uma vez: Deus está nas coincidências. Para os gregos, Deus estaria na matemática. Outros dizem que Deus está em todo lugar, mas, se for assim, como Maria pode ser virgem?? Para mim, o neófito Dammy Urgo, Deus está ocupado, por isso nem ficou sabendo dessas coisas. A criança nasceu saudável, embora os jornalistas responsáveis por divulgar uma notícia tão interessante (estou sendo sarcástico) devem estar com problemas mentais. Aliás, aproveitando o assunto, creio que o uso da ultrassonografia (ou ecografia) tem andado um tanto quanto fora de mora, a não ser que seja utilizado como acompanhamento do crescimento da criança e as possíveis doenças. Pois, para verificar o sexo (é minino homi ou minina mulé, dotô?), perdeu o sentido. Ultimamente, não se aufere o sexo pelo negocinho ou pela negocinha. É preciso aguardar que o cerumano (nova definição do homem, indistintamente de ter negocinho ou negocinha) complete quinze anos e, só então, perguntamos do que ele gosta (às vezes, não precisa nem perguntar, as bandinhas de rock colorido estão aí para confirmar...). Só assim saberemos seu gênero sexual. Ainda assim, a definição de homi ou mulé tem validade limitada. A pergunta precisa ser feita a cada cinco anos, ou menos, em alguns casos. Muda-se de opção da noite para o dia: um dia, o cerumano quer comer uma rabada, noutro dia, ele prepara a rabada. Vá lá entender o que acontece na cabeça desse pessoal. E o próprio menino que fez um V de vitória de repente só estava querendo dizer que corta dos dois lados...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

FORÇA SEMPRE!

Salve Renato!!

27/03/1960 - 11/10/1996

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

LENDA URBANA

Houve um tempo em que choveu tanto que todos os caminhos se apagaram. Quem estava dentro não podia mais sair pois temia se perder; quem estava fora não podia mais chegar pois já se encontrava perdido. As nuvens que trouxeram a chuva eram tão escuras que podiam se dizer cegos. Não havia ruas, avenidas, esquinas, curvas. As casas ao longe eram apenas um brilho pálido, distante e intocável como estrelas. Mas iam se apagando aos poucos. Feito ratos, os que estavam fora pensavem que seriam capazes de chegar às suas casas apenas se seguissem pelos cantos. Mas não havia cantos. Em nenhum dos sentidos. Mal havia voz. Apenas lamentações, gemidos, sufocos. Tudo era uma tristeza profunda. Os que estavam dentro e olhavam pela janela enxergavam os outros em desespero, e estavam tão próximos que quase podiam tocá-los. Mas os outros não se aproximavam, e eles não ousavam sair.

o-gritoA escuridão nos dá a impressão de que tudo está longe demais de ser alcançado.

Eram animais com resquícios de domesticação: mesmo com portas e janelas mantidas abertas, ou não saíam ou não entravam. Era como se entre um mundo e outro houvesse um fino vidro que os impediam de se tocar. Duas castas, duas raças, dois grupos monstruosos, descabelados, desdentados, sujos e famintos. Aos poucos, ambos os grupos, os de fora e os de dentro, foram perdendo a lucidez, pois as nuvens que trouxeram a chuva não se afastaram em anos. Suicidaram-se, mataram-se, devoraram-se. Procriaram-se entre si e geraram cópias mal feitas de seus próprios defeitos. Mais que isso: decifraram-se. E a população de irracionais se reduziu a poucas dúzias que se escondiam das trevas dentro de suas próprias escuridões.

Quando as nuvens finalmente se foram e o sol brotou pálido e escasso após muitos anos, os poucos que sobreviveram não sabiam mais (se) enxergar. Estavam tão acostumados com as trevas que não viram diferença nenhuma. Nem notaram que os caminhos ainda estavam lá, que as casas e os edifícios permaneciam de pé, que as janelas e portas continuavam abertas, e que todas as ruas e avenidas ainda tinham suas placas antigas com nomes históricos dos quais não se lembravam mais dos feitos, ou datas marcantes, nas quais não sabiam mais o que comemorar. Permaneceram os mesmos animais que eram, assim como somos até hoje.

Apenas estamos inconscientes.

sábado, 25 de setembro de 2010

10 RAZÕES PARA VOCÊ VOTAR NO TIRIRICA

1. Pior do que está, não fica.
2. O número dele é fácil de decorar, a gente nem precisa gastar caneta ou lápis para rabiscar o  número num pedaço de papel higiênico usado.
3. Tiririca já declarou que não possui nenhum bem em seu nome. Assim, poderemos acompanhar o crescimento astronômico de seu patrimônio durante seu mandato.
4. Há quase meio século nós, eleitores, somos tratados como palhaços. Precisamos colocar um verdadeiro representante de nossa classe no poder.
5. Tiririca não sabe ler nem escrever, e o Presidente atual não dá valor aos estudos. Como o mundo não acabou em 8 anos, não vai acabar por causa de uma titi… digo, de um Tiririca.
6. Tiririca é o pai da “família” Restart, é só comparar as fotos abaixo. Vencendo a disputa para deputado federal, ele poderá comprar roupas de verdade para seus filhinhos e colocá-los de volta ao caminho do bem.
tiririca2 restart
7. Ele poderá servir como exemplo para gerações futuras. Se ele ganhar, Luan Santana, daqui a oito anos – hoje, ele tem treze – poderá concorrer a um cargo, qualquer cargo, e sumir da nossa vida.
8. Um dos projetos do Tiririca é mudar a música do Hino Nacional deixando-a mais fácil de ser cantada pelos jogadores de futebol. Ficaria mais ou menos assim:
Letra: Ouviram do Ipiranga   /  às margens plácidas / de um povo heróico o brado / retumban-te
Música: Florentina, Florentina / Florentina de Jesus / não sei se tu me amas / pra quê tu me seduz.
9. Ele não sabe o que um Deputado Federal faz, nós nã sabemos o que um Deputado Federal faz, um Deputado Federal não sabe o que faz. Todos juntos somos mais fortes.
10. Tiririca promete apresentar um projeto extinguindo os diferentes fusos horários vigentes no Brasil. Assim, haverá apenas o horário de Brasília: ou seja, só teremos de trabalhar das terças às quintas-feiras.
tiririca1

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

AS REGRAS DO JOGO ESTÃO EM JOGO

Não sou petista, peemedebista, tucano ou outra ave ranfastídea. Também não sou comunista nem socialista, embora seja democrata (na acepção grega da palavra, não na acepção DEMoníaca com a qual a mesma hoje se apresenta). Aliás, eu nem sei quem sou, mas sei que tenho direito de me manifestar, de reclamar, de não permanecer calado para que meu silêncio não seja usado contra minha defesa. Por isso, não posso deixar de registrar minha surpresa com a notícia de que o agrupamento petista (existem mesmo partidos no país?) tenha entrado nesta data, NESTÍSSIMA DATÍSSIMA, restando tão somente 9 dias para o pleito (que ultimamente tem tido mais o sentido de litígio…) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Superior Tribunal de Justiça contra a o artigo 91-A (quando uma lei começa a ter muitos artigos com sub-subs, como A, B ou C é sinal de que já foi remendada demais…) da Lei 9.504/97, vulgarmente chamada de Lei das Eleições (que lei é essa que muda todo ano?).


O citado artigo exige a apresentação do Título Eleitoral e de um documento oficial de identidade compalhaço foto antes de ser habilitado a votar. O ex assessor da Lady Kate fala isso todo dia na TV. Eu sempre fui contra este artigo, como a maioria, pois o eleitor SEMPRE pôde votar apenas com o título ou apenas com a identidade. Não se muda uma tradição criada em 1988 (memória mais longínqua que tenho) com uma ou duas canetadas. É preciso tempo, e um ano não é suficiente, para que possamos nos acostumar. Mas por quê, ó senhor!, por quê diabos, a apenas 9 dias do pleito, a agremiação partidária resolveu entrar com uma ADI  com pedido de liminar (decisão provisória) contra esse artigo? Por quê não ano passado? Por quê não no início do ano? No mês passado?

Ora, pensemos, pois, como bons ruminantes mentais que somos: entre a imensa massa de iletrados que não possuem um, ou outro, ou ambos os documentos, a que classe pertence a maioria?: Alternativa A – Classe A; Alternativa B – Classe B; Alternativa C – Classe C para baixo, incluindo as classes X, Y, Z e Ç? É óbvio que a última alternativa está certa! E dessa massa, dos candidatos que estão encabeçando as listas de favoritos (Tiririca não vale…) em quem vota a maioria? Não, não direi o nome, pois dar nome aos bois já seria dilmais (isso foi um trocadilho muito mal feito…). Assim, o consistório petista (vai lá, corra ao dicionário, eu espero…) quer, tão somente, garantir o alvedrio (cadê o dicionário? não deixou perto? perdeu!) da massa dos iletrados e famintos (não que apenas esses votem em citada confraria) e não correr o risto de disputar um 2o. turno com o outro candidato, que não consegue subir a serra (definitivamente, não sou bom em trocadilhos…).

Pesquisas recentes demonstram que a candidata petista estagnou em determinado patamar, enquanto que os indecisos estão indo para o lado oposto, diminuindo a diferença entre a primeira e os demais, arriscando um sucesso logo de início. Uma abstenção colossal como a que se prevê com a exigência dos dois documentos pode fazer muita, muita falta, para o conglomerado petista. Mas mudar as regras no final do jogo… pode?

(Lá vai César Cielo, pulou na água, são 100 metros, ele é rápido no nado de costas, vai César, vai César, todos juntos rumo ao tetra. Virou, virou César Cielo, e virou bem… Vejam a diferença para os outros nadadores! Espera, a diferença está diminuindo, será que o César está cansado? Mas ele ainda tem chances, o César Cielo vai ficar com a medalha de ouro? A diferença diminui, o segundo lugar está a uma braçada do primeiro… Peraí, peraí!! Pessoal, acabamos de receber um comunicado informando de que as condições da prova mudaram: agora, faltando 9 metros para o término da prova, será nado livre, e o Cielo é imbatível no nado livre. Vai César, vai Brasil, vai pra…).

Chega de parênteses…

sábado, 18 de setembro de 2010

SINESTESIA

Acordei de um sonho que não me lembro sequer de ter dormido, ciente apenas de que enquanto dormia aqui alguém encontrava-se desperto do outro lado. Ainda de olhos fechados e a alma aberta em susto, a boca me trazia um gosto estranho entre o azul e o som de trombetas, lembrando-me o cheiro das amêndoas amargas e do amor contrariado. Senti que este seria mais um dia qualquer cuspido no futuro. Deixei que a luz entrasse vagarosamente pelas estreitas aberturas de minhas pálpebras, e havia no quarto uma série de coisas que desconheço e que sempre me pertenceram como se estivesse envolvido por um museu de novidades. Meu corpo não queria se levantar mas a alma entendia a necessidade de ser sugada para fora. Sentado à beira da cama com esforço hercúleo, sentia-me firme em minha tontura. Ouvi um som como se alguém pintasse um quadro sem cores de natureza morta e, ao olhar pra cima, anacolutos desordenados voavam ao redor da lâmpada recém acesa, recém apagada, recém acesa, recém apagada. Morna. Minh’alma feito uma lâmpada que se apagou e permanece morna. Tenho que trocá-la, pensei de mim para mim mesmo – a alma, não a lâmpada – sabendo que a coragem jamais viria e antes que notasse uma logopéia rastejante entrando pela porta entreaberta, entrefechada, entreaberta, entrefechada. Talvez eu não tenha fechado a janela da sala, talvez eu não tenha fechado a porta da sala, talvez eu nunca tenha fechado nada, e essa vida aberta e desperta seja só o que me resta e me atormenta. Minha logorréia fez ssinestesia ons no estômago e senti fome, mas era preciso antes vestir uma roupa, escovar os dentes, pentear o cabelo e defecar os dejetos de ontem tradicionalmente às quinze para nove em ponto, o que me lembra um pedaço de pizza à espera de ser devorado ou decifrado. Fi-los. Não me lembro se comi pizza. Em minha cosmovisão distorcida, o rosto no espelho não era o meu, mas o de um outro que vivia minha vida, que sabia o que eu sonhava, pensava e sentia. Os espelhos e a cópula são abomináveis pois multiplicam o número de homens, já dizia um sábio cego antes que a visão lhe faltasse. Melhor que eu não trepasse aquele dia, melhor apenas que eu refletisse. (me). Fome. Vontade de comer chocolate. Mas não sei se a vontade era minha ou do outro que me encarava, que dançava pra mim de dedo em riste. Não há mais metafísica no mundo senão chocolates e as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Como eu não sabia se eu era o outro, a fome que eu sentia talvez fosse o outro empazinado, farto das coisas da vida. Ou da morte, já que a vontade dele era a minha. Ou seria o inverso. Lavar o rosto. Da torneira escapava uma luz forte e amarelada que fazia a pia transbordar de uma luminosidade que não ouso encarar. De repente, todo o banheiro é luz até os joelhos, e os azulejos infiltrados permitem escapar hexâmetros heróicos de onde antes fugiam apenas redondilhas menores. Tenho vontade de fugir para perto de tudo, minha maneira de estar sozinho. Ouço um epicédio do lado de fora. Alguém morreu. Que fiquem os chocolates para depois. Não os tenho em casa, como não tenho nada que seja doce, nada que seja palatável, nada que tire da boca esse cheiro das amêndoas amargas e do amor contrariado ou esse som agridoce dos olhos. Palavras repetidas. Quais são as palavras que nunca são ditas. Quem morreu? O próprio Alves? Saio do quarto meio que às pressas e uma lufada de epifania me atinge em cheio, enquanto a luz se espalha pelo assoalho da casa. Na parede do final do corredor um relógio que já marca nove em ponto, um calabouço de ar, um pedaço frágil de mim mesmo. Olho pela janela. Sim. Deixei-a aberta, estou salvo, não me afogarei na luz. Deixei-a aberta assim como a porta e todas as outras janelas e todas as outras portas. Deixei-as abertas assim como toda a casa, assim como toda a alma. O mundo é circular. Estou tonto. Parem! E é por tudo estar aberto, as janelas, as portas, as ânforas vazias cheias de água quente, os vasos de plantas, as caixas de sapato que dizem este lado para cima, as gavetas, os armários, por tudo estar aberto e mais um pouco, que  entram e saem sem pedir licença, sem fazer cerimônica, como se minha casa fosse a casa de todos, a casa dos tolos. Poucos ficam, e os que ficam dizem demais. Querem me dizer quem sou, como devo me sentir e como devo pensar. Se ficassem calados, emudecidos a um canto feito samambaia, se não gritassem, se não gemessem ou se ao menos nem tocassem a valsa vienense… Em minhas andanças pelo mundo nunca saí do meu país. Saudades de Itabira. Nunca estive lá. Do lado de fora, nenhum cortejo fúnebre, apenas um eufemismo de roupa verdejante me acena como se me conhecesse de eras extremas. Se não conheço sequer a mim, que liberdade tem essa figura esquálida para levantar-me a mão? Enlacemos a mão, Lídia, sentados à beira do rio. Depois pensemos, crianças adultas, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa. Sinto-me triste como um pôr-do-sol e tenho medo da noite, pois em meu céu interior nunca houve uma única estrela, e ontem ameaçaram chover. Mas ainda é cedo, muito cedo. Alguém vem me visitar hoje. Não me lembro quem seja. Que bom que esqueci. Não preciso fingir almoço ou jantar, não preciso fingir sente-se aqui que vestirei algo mais confortável. Preciso apenas ser eu. Lembro-me, de súbito, do espelho. Deixei minha imagem lá, meu reflexo sozinho, no quarto cuja lâmpada não sabe se morre de uma vez ou prefere sobreviver mais algumas horas. Quando não há ninguém olhando, o espelho reflete alguma coisa? Dou meia volta. A casa inundada de luz já fazia alguns móveis flutuarem. O espelho no mesmo lugar. Mas o espectro não estava mais ali. Talvez já houvesse fugido pelas janelas ou portas abertas e nunca mais retornasse, como aquela que se escondia por trás de um nome de escuridão. Mas resolvo esperar enquanto a casa se enche cada vez mais de luz e me sufoca quase. Estranho. As luzes não vazam pelas portas e janelas escancaradas, como se as trevas desenhadas pela luz do sol fossem um escudo que impedisse que um mundo se confundisse ao outro. A direção da luz é que desenha a sombra. Penso. Logo, desisto. Volto pra cama. A luz não é assim tão ruim, tem um gosto bom embora rançoso. Preciso dormir mais, deixar o equilíbrio ir embora. Talvez assim eu volte para o espelho, ou o espelho volte pra mim.

Até os 25 anos não me lembro de um dia sequer em que eu não a tenha amado, em que eu não tenha perdido o sono por um amor platônico. Mas um dia, passando de ônibus por um lugar qualquer, e sem que a esperasse, eu a vi e ela me viu pela janela ensanguentada de lembranças. Ambos sorrimos e nos acenamos. O aceno dela era de cumpimento-que-bom-te-ver. Meu aceno era de adeus. E nunca mais pensei nela. Às vezes é difícil até lembrar-me de seu nome…

……..

Antes que me acusem de plágio: neste texto que pode dizer mais sobre você do que sobre mim mesmo, há citações de Jorge Luis Borges, Fernando Pessoa, Júlio Cortázar, Gabriel Garcia Marques, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Cazuza, Renato Russo, Carlos Drummond de Andrade, Dammy Urgo e Paul Rabbit. Deve ter alguma coisa de Kierkegaard, Nietzche e outros clérigos já mortos. Deus está morto, disse Nietzche, mas foi Deus quem matou Nietzche.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O SAGRADO RASGADO

Um maluco americano – tem muita gente maluca por lá – promete que, no próximo 11 de setembro, irá queimar o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, para marcar o nono aniversário dos ataques de 11 de setembro. Primeiro, acho que só se deveria marcar, ou comemorar, as datas boas: esqueça-se o 11 de setembro de 2001 – ataques às Torres Gêmeas; o 06 de agosto de 1945 – a bomba nuclear sobre a Hisoshima, ou o 26 de dezembro de 2004 – Tsunami na Indonésia, sem contar as datas de nascimento de alguns “grandes” líderes mundiais. Em segundo lugar, sou até capaz de entender a repercussão deste ato insensato pelo mundo, capaz de causar uma onda de violência sem precedentes, mas não compreendo a repercussão que tem tido no Brasil.
Aqui, rasga-se, todo dia, indiscriminadamente, a Constituição Federal e ninguém diz nada, ninguém se espanta, mal se arqueiam as sobrancelhas. E quem faz isso são os que estão lá em cima. Passa-se por cima de leis, derruba-se pilares constuídos através da história, mata-se a alma do cidadão, desrespeita-se os direitos mais básicos de todos : alimento, moradia, saúde, educação. Vida.

Sagrado é apenas aquilo ditado por um deus, por um profeta, por um escolhido? Um texto que, bem ou mal, teve a participação da população, não pode ser considerado sagrado? Tem menos valor?
A quebra de sigilo fiscal é o assunto da moda. Meu sonho era trabalhar na Receita Federal. Ano passado, estudei o ano inteiro para tanto. Cheguei perto, mas não deu. Agora, não sei se devo continuar sonhando com isso. Daqui a algum tempo, ser chamado de Servidor da Receita Federal pode tornar-se um insulto e de insultos eu já estou farto. Tem tanta gente com o sigilo sendo quebrado – e o Serra tem tantos parentes… – que, daqui a poucas semanas, os repórteres anunciarão, com suas vozes taciturnas, profundas, abismáticas: Fulano continua com seu sigilo fiscal preservado. Ele é o último.3
Então, erguerão-se igrejas, cultos, filosofias em honra de um único intocado. Talvez este pobre coitado não tenha mesmo nenhum sigilo a ser quebrado por ganhar salário de fome, ou talvez seu nome tenha sido esquecido embaixo de algum dossiê mais importante, ao fundo de uma gaveta bolorenta. Nesses últimos tempo, ser desconhecido é o que há de melhor.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DIA DO SEXO

- Mó, acho que nosso casamento está acabando.
- Onde?
- Como assim, onde?
- Onde está meu chinelo?
- Você não está nem prestando atenção no que estou falando.
- Não consigo pensar com os pés descalços… Pronto! Achei. O que foi que você me perguntou?
- Não perguntei, eu declarei: acho que nosso casamento está acabando.
- Onde?
- Você já não achou seu chinelo?
- Já. Mas nosso casamento está acabando onde? No amor? Na amizade? No dinheiro? Na saúde? Na doença? Na chuva?
- No sexo. Você não falou “no sexo”.
- Me esqueci.
- É exatamente isso o que estou dizendo. Nosso casamento está se acabando. Não tem mais paixão, fogo, sexo. Você não me procura mais como mulher.
- Claro que te procuro como mulher… Quando os pratos estão sujos e não tem nenhum em que eu possa comer, eu não te procuro para lavar?
- Você não pode estar falando sério… Olha… Você se lembra há quanto tempo não vamos ao motel?
- Isso ainda existe??
- Foi antes de nos casarmos.
- O que é lógico. Você não queria que nós transássemos no quarto dos seus pais ou no chiqueiro dos porcos do seu avô, muito menos na rua, como se fôssemos cachorros. Para isso, existia – ou existe – o motel, o que eu não entendo, pois hoje as pessoas transam em qualquer lugar. Feito cachorros.
- Mas é no motel que realizamos nossas fantasias, que podemos gritar, pular…
- Olha barata!!!!
- Ah!!!
- Viu só? Você gritou e pulou. Não precisa de motel pra isso.
- Quer dizer que você me sugere ir a um motel com uma barata.
- Cada um com a sua tara. Mas diga, o que você quer de mim.
- Quero aproveitar esta data importante e ir ao motel contigo. Fazer amor como há muito tempo não fazemos, fazer nosso paixão renascer, acender nossa chama. Nós podemos deixar as crianças na vizinha, dormir no motel e voltar apenas de manhã.
- Dia importante?? Hoje é dia da secretária??
- Não. Hoje é dia do sexo. DO SEXO!! Não sabia? O mundo todo está falando sobre isso, no twitter, no Orkut, no Youtube.
- O mundo não é mais o mesmo. O mundo está no computador. Parece aquela crônica do Dammy Urgo sobre a TV chamada O Teatro dos Vampiros… Mas… na verdade, o que se fala o tempo inteiro é em dossiê… Pensando bem, dá na mesma, fazer dossiê é coisa de gente que quer fuder com os outros.
- Você topa?
- Fazer um dossiê?
- Ir ao motel, idiota.
- Existe um motel chamado idiota?
- Não!!! Tem uma vírgula aí…
- Já falei pra você fazer um curso de comunicação. Você engole palavras, come sílabas, não dá pausas. Não dá para entender nada. Talvez nosso casamento esteja acabando aí.
- Você topa ou não topa.
- Tudo bem. Eu aceito. Vamos aonde?
- Tem um motel que minha amiga foi mês passado na BR chamado Borboleta Butterfly.
- Borboleta Butterfly?
- É. Parece ser muito chique.
- E brega. É como se um pai batizasse sua filha de Maria Mary. Mas tudo bem. Se você quer, nós vamos. Na verdade, já estou pronto.
- Mas você está de bermuda!
- E tem roupa própria para se entrar no motel? Lá não ficam todos pelados mesmo? Tudo bem, vou trocar de roupa. Não demora.
- Vou te esperar ansiosa.

- Nossa! que lugar lindo! Olha essa cama redonda, esses quadros, esse móveis. Olha só, tem até um frigobar. Deixa ver o que tem… Whisky, champanhe, só coisa chique.
- Não tem cerveja não vale nada. Pelo preço, deveria ter uma barra de ouro na geladeira, mesmo sendo só por uma hora.
- Você só pagou uma hora e está reclamando! Deveríamos ficar a noite toda. Uma hora não dá pra nada, então, deixa de reclamar e vamos curtir ou estaremos perdendo tempo e gastando seu dinheiro. Deixa eu ver o banheiro… Noooosssaaaa! Vem ver essa hidromassagem! Cabem dois casais aqui…
- Ficaria mais interessante…
- Tem até espuma. Caraca! Nunca fui num lugar tão chique assim. Deixa eu testar esta cama com um pulo… Putz! Parece uma cama elástica de tão macia. Olha só o candelabro, as taças sobre a mesa… Que estilo é esse, mô? Barroco? Rococó?
- A julgar pelo nome Borboleta Butterfly, deve ser os dois: Barrococó.
-Olha só. Quando eu aperto este botão aqui, a cama vibra.
- Evita trabalho.
- Se eu aperto aqui, tem música suave.
- Prefiro Luan Santana.
- Esse botão aqui liga a TV. Ops. Canal pornô. Fica para mais depois. E se eu aperto aqui, o teto se abre… Olha só que noite linda, quantas estrelas, que arquipélago é aquele, meu bem?
- Não é arquipélago… é constelação. Não sei como se chama. Sempre fui péssimo em química.
- Mas é linda, de qualquer jeito. Estrelas ou ou ilhas, estão observando o nosso amor.
- Que amor? Já estou na cama, pelado, te esperando, e você aí, encantada com tudo. O tempo está passando.
- Espera mais um pouco, deixa eu aprecisr este céu, estas estrelas, esta noite linda. Sente, meu bem, nosso amor renascendo, nossa paixão aflorando, nosso fogo se esquentando. Era disso que sempre precisamos. Dá vontade de ficar aqui, só olhando o céu… Vou pegar uma coisa pra gente beber. Pronto. Que delícia de bebida, boa mesmo.
- Me dá um gole… Bom mesmo. Me dá outro. É. Muito bom. Pega mais pra nós.
- Lindo aqui, não é, mô. A gente poderia vir aqui uma vez por mês… Iria fazer um bem danado.
- Me dá mais um pouco.
- A gente descansa das crianças, do mundo…
- …Do twitter, do Youtube, da TV, do celular. Alguém ainda vive sem isso? Me dá mais um gole. Bom mesmo. Você já bebeu meia garrafa.
- Felicidade, meu amor. Felicidade. Vou pegar mais um pouco. Se estiver com frio, posso fechar o teto.
- Não. Assim tá bom. Mas liga a TV. Põe no jornal.
- Vou deitar do seu lado. Posso?
- Já deveria ter deitado. Mas me dá mais um gole, vai. Bom mesmo.
- Eu estava pensando… A gente poderia pelo menos colocar um espelho no teto do nosso quarto. Nossa vizinha tem um, ENORME!!! Imagina se aquilo cai na cabeça dela bem na hora do vamo-vê? Iria ser uma tragédia. Agora esses móveis… Devem ser caros pra caramba, mas a gente poderia comprar aos poucos: primeiro, uma mesinha, depois, esse carrinho de bebidas, depois, uns copos, as taças, as bandejas. Parecem de prata. Tem certeza de que é barrococó? Não seria um pós-moderno-vanguardista-arcaico? Os quadros também são uma beleza. Esses corpos semi-nus, essas paisagens lindas, tranquilas… Parece que estamos lá, no meio da paisagem, dos pássaros, das árvores. Parece que podemos sentir a brisa. Acho que é por causa do teto que está aberto. Acho melhor fechar. Espera um pouco… Bom. Melhorou. Vou apagar as luzes para ficarmos vendo TV no escurinho, igual quando estamos em casa. Amor, amor… Amor, você dormiu? Acorda! Acorda peste!!! Você só pagou por uma hora! Acorda, desgraçado!!!

DIA DO SEXO

Putz! Acabei de descobrir que ontem foi o dia do sexo 6/9. Se minha mulher souber, tô ferrado.

sábado, 4 de setembro de 2010

A 700 METROS DE PROFUNDIDADE, MINEIROS TAMBÉM PENSAM NAQUILO!

Em vídeo, operários pedem bonecas infláveis; equipe de resgate diz não

Manuela Franceschini, de Copiapó, no Chile
No acampamento da mina San José não se fala em outra coisa. No segundo vídeo que mandaram às suas famílias e ao mundo, nesta terça-feira, os 33 mineiros soterrados no deserto do Atacama fazem um pedido. “Senhor ministro (da Saúde, Jayme Mañalich), estamos muito felizes. Temos música e estamos dançando!”, diz um deles. Ao fundo, alguém interrompe: “Falta a boneca inflável!”, e é apoiado por todos com gritos e risadas.
Nas cartas enviadas aos parentes, os operários pedem sempre pôsteres e fotos de mulher pelada. “Tem que ter um entretenimento, coitados! Que mandem uma (boneca) para cada um ou vão enlouquecer. Eu mesma mandei na última carta uma foto de uma modelo pelada junto", conta Yéssima, mulher de Dario Segovia. "Disse que a foto era minha", acrescenta, caindo na risada. O mineiro, a propósito, já respondeu, agradecendo o presente.
Já a prima de Dario, Alda Rojo, acha que mandar bonecas é ir longe demais: “São uns mimados! Eles têm suas senhoras aqui em cima esperando. Querem boneca pra quê? De jeito nenhum!”. O filho do mineiro, Cristian, concorda com a tia: “Eles têm que trabalhar lá embaixo. Se mandarem a boneca, não vão fazer outra coisa.”
A mulher de Victor Zamora, Yéssica, lava as mãos: “Essa decisão é dele. Com tanto que não seja de carne e osso, mandem quantas mulheres quiserem”. A sogra, Nelly, a interrompe: “se os médicos aprovarem, que mandem o que pedirem!”
No entanto, segundo a assessoria de imprensa do ministério de Saúde do Chile, não serão enviadas bonecas infláveis. “O bem estar dos 33 será assegurado com alimentação correta, vitaminas, exercícios físicos e cuidados médicos”, disse a VEJA.com Alejandro Nuller. (Fonte: Veja.com)

Comentário de Dammy Urgo: vou pedir transferência pra lá.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O QUE VOCÊ FARIA SE GANHASSE 85 MILHÕES DA MEGA-SENA??

- Compraria um HD maior. (Gérson da novela das oito que começa às nove);
- Partiria tudo com o Macarrão. (Bruno, ex-integrante da facção do Flamendo);
- Dava pro Bruno. (Macarrão, amante do ex-integrante da facção do Flamengo);
- Uê? Mas o Senna não morreu? (Luciana Gimenez, apresentadora de TV);
- Isso dá mais ou menos quanto? (Luciana Gimenez, apresentadora de TV, ao ser informada dos detalhes do assunto);
- Se a Ferrari mandar, entrego tudo para o Fernando Alonso. (Felipe Massa, segundo piloto da Ferrari);
- A quina tá pagando quanto? (Rubinho, segundo de qualquer coisa);
- A Mega-Sena não está acumulada, isso é um golpe baixo, estão querendo ganhar no tapetão! Tudo não passa de uma armação do PT e do pessoal da Dilma para conseguir mais votos junto ao eleitorado. Nós estamos entrando com uma reclamação junto ao TSE ainda hoje pedindo a cassação de sua candidatura! (José Serra, candidato a presidente pelo PSDB);
- Uma parte iria para o Renan Calheiros, outra parte para o Sarney, uma outra para o Collor e outra para o Jáder Barbalho. O que sobrasse, eu pagava para fazer um dossiê sobre o Dammy Urgo. (Dilma, candidata a presidente pelo PT).
- Isso é mais uma conquista do governo do Lula e da Dilma (propaganda eleitoral do PT);
- A gente conseguiu fazermos a Mega-Sena acumularem porque muita gente, como nunca na história desse país, que não jogava tá jogano agora com o dinheiro ganho com o bolsa-família. Como essa gente não sabe jogá, marca tudo os mermo número de zero a çeis e ninguém ganham nada. (Lula, o nosso molusco que não sabe nada e único ser humano que consegue falar seis com cedilha);
- Eu fui alfabetizada com 16 anos. (Marina Silva, candidata pelo PV);
- Esse dinheiro é obra da burguesia, fruto do latifúndio improdutivo administrado pelas oligarquias de elite. Precisamos reestatizar a Vale, a Petrobrás e a Usiminas; fazer reforma agrária na lua e aumentar o salário mínimo para 2.500 reais por mês, diminuir a jornada de trabalho para 24 horas mensais sem redução do salário, legalizar o aborto e ressuscitar Engels, Marx, Lênin, Trótski e Eliza Samúdio, pois ela também foi uma vítima da burguesia. Também somos contra a Usina de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco, e o monocultivismo de eucalipto em áreas em que não se planta eucalipto. (Qualquer candidato de esquerda).
- Eu não fazeria nada! Posquê os número da Mega-Sena só vai até 60 e meu número é 2222. Pior do que tá, num fica. Vote no Tiririca. (precisa dizer?);
- Não sabe o que fazer com 85 milhões? Vota ni mim que eu te conto! (precisa mesmo dizer?);
- Eu faria muita pipoca para os baixinhos! (Xuxa, que depois de fazer pipoca deve aproveitar o sabugo pra alguma coisa).
- Dinheiro não traz felicidade. (Paulo Coelho, escritor de auto-ajuda rico, muito rico, e feliz da vida);
- Dinheiro é só alegria! (Paul Rabbit, twitteiro de auto-engano, pobre, muito pobre, e devendo a fatura do cartão do ano passado).
- Faria um transplante de cérebro, né? Tem tanta gente precisando! (Sabrina Satto, apresentadora de TV);
- Pagava para o Sílvio Santos me levar de volta (Gugu, que de vez em quando ainda aparece na TV).
- Tomaria vergonha na cara e pararia de escrever esta porcaria. (Dammy Urgo, revoltado com a vida)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O TEATRO DOS VAMPIROS

Lembro-me que, dois anos atrás, também em época eleitoral, o TSE divulgava em rede nacional uma série de comerciais sobre a importância de se escolher um bom político – pelo visto não adiantou nada... Em uma dessas peças, determinado eleitor tinha uma abelha presa no ouvido e precisava alimentá-la com mel para que o zunido parasse. Como a divulgação era em todas as emissoras de TV e em todos os horários, o alcance foi maiúsculo. Acontece que, algum tempo depois, uma mãe entrou em contato com o TSE reclamando da má influência da propaganda, pois sua criança, ao ver o eleitor alimentando a abelha introduzindo mel em seu canal auricular – não sei se os termos foram exatamente assim – tentara fazer o mesmo… A peça publicitária foi retirada do ar.

Recentemente, uma turma de roupa colorida começou a aparecer na TV e não deu outra. Em todo canto veem-se jovens com calças e blusas de um tom reluzente, amarelo, azul, verde, tipo mamãe-tô-na-área, sem contar o cabelo tipo chapinha dos emos. Minha jovem vizinha ADOGA!!Não. Emo não é gay, ainda que o inverso de emo seja ome. Agora, começam a aparecer umas camisetas com gola em formato de V iguais às camisetas de um tal de Fuckyou que tem até um quadro no Fantástico – enquanto eu, servidor público federal e blogueiro nas horas vagas, o máximo que consigo é aparecer no jornal local em tom sério identificado com meu ortônimo. Ou é ele quem está aqui como seu heterônimo? Não sei mais quem sou eu
Semanas atrás, um vídeo mostrando uma senhora inglesa jogando uma gata dentro de uma lata de lixo ganhou o mundo e paródias. Esta semana, um vídeo de uma jovem da Croácia jogando vários cachorrinhos num rio, provavelmente gelado, causou comoção. Até mesmo eu, este poço de sentimentos da profundidade de um pires raso, fiquei chocado. A Inglaterra é logo aqui do lado, perto da Croácia, indo pra Ipatinga. O mundo parece ser menor que o Projac da Globo, onde se vai pra Toscana, Índia ou Marrocos em menos de um capítulo. Parodiando Drummond em O Mundo É Grande, digo: o mundo é grande e cabe nesta janela dentro da sala de estar.

Ontem, um vídeo gravado por celular mostra uma menina de aproximadamente 3 anos sendo incentivada por um grupo de adultos, entre eles, a tia, a fumar um baseado, em João Pessoa, Pernambuco. Era maconha mesmo, não era alface nem orégano… Provavelmente, foram influenciados por um outro vídeo mais antigo – mas nem tanto… – de um menino de 2 anos da Indonésia que fumava até 2 maços de cigarro por dia. Pronto. A imagem do bebê que curte uma rockonha corre o mundo: está na internet, está na sua sala, está na sala de seu vizinho.

Daqui a pouco, a mania se espalha e os pequenuchos vão aparecer por aí cheirando leite Ninho.

Isso é a moda. Isso é TV. Esse é o nosso mundo. Vou ligar o rádio.

----------

Se você quer saber o porquê do título, clique aqui. Dammy Urgo também é cultura.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

BlogDay

Hoje é o BlogDay. Não sei quem declarou ou estipulou isso, mas está lá no Twitter, que virou referência mundial. O que está no Twitter rola no mundo, o que rola no mundo, está no no Twitter. Você talvez não se lembre, mas, antigamente, as pessoas se comunicavam com cartas. Tinha um negócio chamado selo, que se colava num outro negócio que se chamava envelope – ainda existe, mas usa-se pouco – e levava-se a uma agência de Correios. Que ainda existe, não sei exatamente pra quê, talvez apenas para encher as burras dos corruptos de dinheiro na cueca… Tudo era feito em papel, que aos poucos vem se tornando objeto de curiosidade. Mais tarde, muito mais tarde, veio o telefone, no início, muito caro, com o tempo, muito barato, mas que só faz raiva até hoje. As operadoras de telefonia, junto com os bancos e as agências de planos de saúde, mandam no país e ninguém faz nada. Depois, em uma evolução natural, veio o celular e o SMS, frases rápidas, oi, tô te esperando na esquina, me liga, te amo, não vivo sem você. A comunicação nunca mais seria a mesma com a popularização do email e suas correntes – argh! quem não indicar esse blog acordará amanhã com o penteado do Justin Bieber e os olhos de Luan Santana. Foi a partir daí que as cartas deixaram de existir. Hoje, só recebemos cobranças, faturas, cartões de crédito que não pedimos, você foi escolhido entre os formadores de opinião do país e ganhou 15 dias de assinatura da Folha. Nem cartões de Natal nós recebemos. Eles vêm naquelas ridículas apresentações de PowerPoint com uma musiquinha brega ao fundo. Mas era preciso mais, muito mais. Criaram os blogs, e todos os seus segredos eram os segredos de todos. Ontem eu briguei com minha mãe, meu pai me acertou na cara, estou apaixonada, entreguei-me ao meu melhor amigo, quero me matar mas estou sem tempo. As pessoas se confundem, pensam que quem escreve são elas mesmas. Quem escreve é um personagem de si próprio. Este que aqui é lido chama-se Dammy Urgo, com dois gês, mas que prefere um único para não ser considerado pedante demais. Mas quem digita é o outro, o J., cujo nome não interessa. Pois o J. só existe para si próprio, às vezes nem assipessoa m. Quem mais entendeu isso foi o português Fernando e suas pessoas: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares e outras dezenas. E foi Álvaro de Campos quem escreveu “Eu fingi que estudei engenharia./Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria”.

Eu, para lembrar-me que o J. existe, tenho que aparecer na frente do espelho e ver as marcas que o tempo já me deu, os cabelos brancos que a tinta não conseguiu esconder, o cansaço. Do contrário, não sei quem sou. Melhor ser Dammy Urgo, ainda que com um únigo gê, do que ser J. e achar que tem algo a dizer. Se sei quem sou, eu não me disse. Já fui a Macchu Picchu para me encontrar, mas quando cheguei lá eu já tinha ido embora e nem me dei tchau. Não. Mentira. Não fui a Machu Picchu. Apenas Dammy Urgo foi em seus pensamentos. O leitor e o autor é que habitam o mundo real, o narrador, o blogueiro, está entre eles, numa espécie de purgatório, entre o céu e o inferno. Muito, ou seria tudo?, do que lemos nesses blogs que por aí pululam, inclusive este meu, são apenas aspirações, desejos inconfessos que não são próprios. Um outro vive minha vida e me acompanha como sombra: às vezes está atrás, às vezes se adianta e fala besteira, noutras, está do meu lado. Às vezes quer ser sério, às vezes, engraçado, às vezes não quer falar nada. Quando quer dizer algo, a criatura tenta matar o criador e sair de seu mundo. Criar um avatar e acha que tem alguma verdade a dizer. Como não foi possível ter os 15 minutos de fama apregoados por Andy Warhol, que se tente os 15mb ou os 140 caracteres, nos quais eu não consigo dizer quase nada, e torturo os poucos leitores com estas linhas que eu não sei se deveriam ter sido escritas.

sábado, 28 de agosto de 2010

REVELAÇÃO

Afinal, quem é Dammy Urgo?
Primeiramente, é Dammy Urggo, com dois "gês", mas eu escrevo com apenas um para não parecer muito pedante.
Eu nasci em uma família humilde, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa, e também já passei por muitas dificuldades, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa. Mineiro, uai, sempre lutei muito, até chegar onde cheguei – o que não é muito longe, principalmente considerando que minha mulher não me deixa sair sozinho – diferente da Dilma, do Lula, do Serra, do FHC, da Marina, da Marta, do Aécio, do Hélio, do Patrus, do Tiririca, e da Heloísa, que já deram ou darão uma passadinha em Brasília. Alguns ficarão por lá e jamais retornarão, feito plantas parasitas. Assim como os grandes nomes da história nacional, como Drumond que se tornou poeta, Villa-Lobos, que foi compositor, Rubem Fonseca, que é escritor, sou servidor público e me tornei... bem, me tornei blogueiro, por que os tempos mudaram, assim como mudaram a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa. Por isso, sou mais antenado com a modernidade: sou a favor do casamento gay, do batismo gay, da separação gay, do Bar Mitzváh gay, da crisma gay, do velório gay, da cremação gay, do nascimento gay, da circuncisão gay (isso é gay mesmo!!), do Robocop gay, do Batman gay, do Robin gay, do abacate bay, da banana gay, da maçã gay e da jaca gay, mas sou contra os emos, pois até viadagem tem que ter limite. Também sou ecologista: defendo o verde, desde que não seja AQUELE verde que minha vizinha usa, mas também gosto do amarelo, do marrom, da fúcsia, do magenta, do bonina e todas aquelas cores da Caixa de 48 Lápis da Faber Castell que minha mãe nunca me deu e me faz chorar até hoje. Ela só comprava lápis Labra…
Nunca usei drogas, mas tomo Tylenol de vez em quando; nunca matei ninguém, mas tenho vontade de agarrar o pescoço de alguns; não acredito em Deus mas acho que ele existe; não tenho religião, mas estou fundando uma igreja. Fiz até o primeiro semestre de Arquivologia, o que me torna um exímio arquivador de pastas e arquivos com palavras iniciadas com “Ç”. Não sou candidato, mas sei que algum dia poderei fazer alguma coisa pelo país, nem que seja jogá-lo de vez na privada, assim como a Dilma, o Lula, o Serra, o FHC, a Marina, a Marta, o Aécio, o Hélio, o Patrus, o Tiririca, e a Heloísa fazem ou estão querendo fazer, todos com o seu (nosso!) apoio. No momento, além de blogueiro sem sucesso e servidor público sem recesso, dedico-me a escrever o discurso de posse do Tiririca, pois tenho certeza de que ele vai ganhar e, ao mesmo tempo, aproveito para ajudá-lo em alguns projetos, como aumentar o número de caracteres no Twitter de 140 para 171 e obrigar a novela Passione a revelar o segredo do Gerson antes do último csuicidio-20ursinho-smallapítulo. Sou casado e tenho duas filhas que, coincidentemente, são também filhas de minha esposa, o que não é muito comum hoje em dia. Infelizmente, elas sabem minha identidade, o que tem causado reações estranhas no seio de minha família, e também nos braços, nas pernas, nas coxas, na Dilma, no Lula, no Serra, no FHC, na Marina, na Marta, no Aécio, no Hélio, no Patrus, no Tiririca, e na Heloísa.
Bem, agora que você satisfez sua curiosidade e já sabe quem sou eu, tornando-se, assim, parte de minha existência e uma pessoa muito mais feliz e completa, capaz de enxergar que depois do túnel tem sempre o fim da luz, vá procurar alguma coisa a que se dedicar, ou seja, não seja uma Dilma, um Lula, um Serra, um FHC, uma Marina, uma Marta, um Aécio, um Hélio, um Patrus, um Tiririca ou uma Heloísa e tente fazer, de verdade, alguma coisa pelo seu país: mate-se!